Sergio Alli, Paz e Amor
- Zeca Sampaio

- 22 de nov. de 2021
- 2 min de leitura

O que agora conto não me foi dito por outros, eu vi.
O Vai Quem Qué já ia longe na avenida. Era um dos primeiros carnavais do bloco.
Mas, o povo já sabia muito bem o que é que é.
Descendo a Teodoro, a quantidade de foliões ia aumentando. Muitos esperavam pelo caminho e entravam no meio da brincadeira engordando a malta (no bom sentido, é claro).
O som, como sempre, não chegava para todo o bloco entender o que estava sendo cantado e o Sergio Alli podia ser visto indo pra a dianteira e a traseira cantando a marchinha da vez, como forma de espalhar a música de forma mais ou menos uniforme pela avenida.
Do meu posto, tocando o surdo, eu podia perceber que não estávamos todos no mesmo compasso, mas isso era compensado pelo fato de estarmos todos na mesma alegria.
Na frente do Vavá, a pausa para reabastecimento, enquanto na bateria um revezamento ia acontecendo. Algumas pessoas largando os batuques para poder tomar umas, e outras aproveitando a deixa para poder pegar aquele instrumento que nunca tinha tocado antes para experimentar ali na rua.
Lá pelas tantas, um quiproquó surgiu entre alguns batuqueiros que a essa altura já se sentiam meio donos da bateria, como sempre acontece quando eles percebem que ninguém ali manda. Sendo assim, pensavam, cabia a eles mesmos se apropriarem e se responsabilizarem, cuidando para que não houvesse sumiços, estragos e, em alguns momentos até, zelar pela qualidade da levada.
Esse momento sempre é delicado. As pessoas confundem se apropriar com mandar, responsabilidade com hierarquia, cuidado com autoridade. Então, o germe da confusão pode surgir. Um já ia puxando o instrumento, outro xingando, quando apareceu por ali o Alli.
Vejam lá a situação. O potencial explosivo era enorme.
Vindo direto do balcão, o Sergio, carregava uma garrafa de cerveja numa mão e um copo cheio na outra. Chegou chegando e falou alto.
– Ô meu, para com isso. Olha aqui na minha mão. O que é que você tá vendo?
Um silêncio se fez no meio do tumulto. Um Zé olhou pro Alli, um João olhou pro copo, um Mané pra garrafa.
Ato contínuo, quem estava puxando o surdo parou e pediu um gole.
O copo percorreu a roda, sendo rapidamente reabastecido pelo pacificador que tinha a garrafa.
Na sequência, alguém apareceu com unzinho. Passado o cachimbo da paz, o batuque foi retomado sem que ninguém lembrasse que havia uma quizília.
A turma estava se animando pra sair. A bateria nota X se aprumou, mandou ver no couro e o povo desceu a Fradique cantando: Vai, vai, vai, Vai Quem Qué, entra bicha, entra homem, entra velho, entra mulher...
O quê? Duvida? Pois foi assim mesmo. Talvez.





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